sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Chega de saudade

Tom sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Ele sabia que depois de uma chegada vem sempre uma partida, e que a vida é uma grande ilusão. Mas ele nunca se iludiu, não achou que Dindi era o amor de sua vida, não podia contar com isso. É que Dindi tinha uma doçura encantadora, um abraço que aquecia seu coração tão resfriado pelas adversidades da vida.

No entanto aquela sensação de que alguma coisa extraordinária poderia acontecer não o abandonava. Ela era seu amor Bossa Nova: mansinho, feito uma brisa que diz “é impossível ser feliz sozinho”. E quando a luz dos olhos dela encontrava com a luz dos olhos dele,

 “Ah Dindi, se soubesses como machuca, não amaria mais ninguém.”

Os dois não se viam sempre. Havia uma distância que poderíamos medir em quilômetros, que não bastaria para calcular quão longe estavam um do outro. Essa distância era mais bem medida em dias. Dias que levariam para correr (literalmente) todo o percurso entre suas casas. Provavelmente se encontrariam em alguma praia deserta no meio do caminho. Passariam uma tarde em Itapoã, falando de amor.

E o resto, mar. Tudo que eu não saberia nunca contar.

Eles só se encontravam de passagem, na cidade, no cais, na eternidade. Mas o coração dele saltava toda vez que, sem menos esperar, ela vinha, mesmo que por ínfimos e calorosos minutinhos. Com seu violão, musiquinhas, palavrinhas bonitinhas e tantos e tantos beijinhos, mais do que peixinhos a nadar no mar.

Mas ela sempre tinha aquele mar no olhar. Como quem a qualquer momento se vai. Tom pensava “vai ver, tem que ser”, e vivia o dia, sem medo de no final dele só sobrarem lembranças. Ele não era ninguém de ir em conversa de esquecer a beleza de um amor que passou. O importante era viver, e passar mais uma vez, só pra garantir.

“Ai, Dindi, se soubesses o bem que eu te quero...”

Até que um dia Dindi disse que ia passar por ali. Como sempre, Tom ficou tentando conter a aflição. Seriam abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim. Ele não, dormiu, não parou. Mas Dindi passou direto.

Que insensatez, que coração mais sem cuidado...

Não era uma grande surpresa, ele sempre soube que ela partiria, mas os momentos felizes já tinham deixado raízes no seu penar.

Com o tempo ele percebeu que ela tinha ido sem volta. Então ele resolveu aceitar e seguir adiante. Sei lá, a vida tem sempre razão.

“Mas, se ela voltar...
Se ela voltar, que coisa linda...

Que coisa louca.”

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