segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A questão dos peixes

Marina sempre ficou imaginando o grande amor da sua vida. “Haverá de me atrair”. Não se importava com beleza óbvia, mas a beleza escondida nos defeitinhos bobos, um lábio meio torto, um nariz proeminente, um bigode que mexe quando o cara fala, o jeito de falar, ou qualquer característica aleatoriamente esquisita que fizesse daquela pessoa unicamente atraente. Mas o mais importante de tudo: pernas. Pernas foram feitas para se encaixar. As pessoas dizem que o primeiro beijo é um momento crucial para saber se há química. Mas Marina não acha suficiente. Ela precisa dormir com a pessoa e sentir que passaria o resto da vida confundindo suas pernas com as da pessoa, com sua licença, Chico Buarque. Ela precisa saber que tem um lugar pra sua cabeça no ombro (macio, diga-se de passagem, tem que ser) dessa pessoa, enquanto as pernas se entrelaçam firmemente. Enfim, fora isso, toda aquela perfumaria que no final das contas é sempre considerada: engraçado, carinhoso, fiel, educado, blá blá blá.

Vamos facilitar a vida dela: no mundo inteiro há 70 milhões de pessoas que poderiam ser facilmente identificadas como sua alma gêmea, uma coisa que Marina não acredita. 70 milhões é muita gente. Mas é muito mundo também. Considerando que há 5 continentes e sem considerar muito suas densidades populacionais (por questão de preguiça mesmo), estima-se que em seu continente provavelmente haveria 14 milhões de pessoas compatíveis, digamos assim. 7 milhões na América do Sul. Cerca de 5 milhões no Brasil. Tudo bem, seu país é grande, e tem mais ou menos umas 5 mil cidades. Bom, esse cálculo sim, que seria loucura, devido a variação populacional enorme de uma pra outra, mas só por curiosidade, e porque não queremos parar por aqui, chega-se a conclusão que na cidade em que Marina mora deve haver mil pessoas que poderiam aquecer seu coração.

Vamos considerar que metade dessas pessoas são feias. Não feias e ponto final, mas não atraem e nem despertam a atenção de Marina. Como já falei, Marina não se importa com a beleza escancarada, mas com algo de sedutor por trás (ou na frente). Claro que num mundo ideal, isso não importaria. Mas esse é um mundo ideal? Se fosse, não existiriam baratas. Mas voltemos, 500 peixes por aí dando sopa no oceano. Bem, não tão fácil assim, metade desses peixes estão comprometidos. Com pessoas que já são os amores das suas respectivas vidas? Sabe-se lá. Talvez sim, talvez não. Mas o que importa é que 250 pessoas estão aí, Marina. Se você mora numa cidade de 5 milhões de pessoas, você tem uma chance de 1 para 20 mil de achar uma de suas almas gêmeas (cálculo baseado no que eu quis mesmo). Na sua cidade.

Ainda bem que existem outras cidades.

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