Marina sempre ficou imaginando o
grande amor da sua vida. “Haverá de me atrair”. Não se importava com beleza
óbvia, mas a beleza escondida nos defeitinhos bobos, um lábio meio torto, um
nariz proeminente, um bigode que mexe quando o cara fala, o jeito de falar, ou
qualquer característica aleatoriamente esquisita que fizesse daquela pessoa unicamente
atraente. Mas o mais importante de tudo: pernas. Pernas foram feitas para se
encaixar. As pessoas dizem que o primeiro beijo é um momento crucial para saber
se há química. Mas Marina não acha suficiente. Ela precisa dormir com a pessoa
e sentir que passaria o resto da vida confundindo suas pernas com as da pessoa,
com sua licença, Chico Buarque. Ela precisa saber que tem um lugar pra sua
cabeça no ombro (macio, diga-se de passagem, tem que ser) dessa pessoa,
enquanto as pernas se entrelaçam firmemente. Enfim, fora isso, toda aquela
perfumaria que no final das contas é sempre considerada: engraçado, carinhoso,
fiel, educado, blá blá blá.
Vamos facilitar a vida dela: no mundo
inteiro há 70 milhões de pessoas que poderiam ser facilmente identificadas como
sua alma gêmea, uma coisa que Marina não acredita. 70 milhões é muita gente. Mas
é muito mundo também. Considerando que há 5 continentes e sem considerar muito
suas densidades populacionais (por questão de preguiça mesmo), estima-se que em
seu continente provavelmente haveria 14 milhões de pessoas compatíveis, digamos
assim. 7 milhões na América do Sul. Cerca de 5 milhões no Brasil. Tudo bem, seu
país é grande, e tem mais ou menos umas 5 mil cidades. Bom, esse cálculo sim,
que seria loucura, devido a variação populacional enorme de uma pra outra, mas
só por curiosidade, e porque não queremos parar por aqui, chega-se a conclusão
que na cidade em que Marina mora deve haver mil pessoas que poderiam aquecer
seu coração.
Vamos considerar que metade
dessas pessoas são feias. Não feias e ponto final, mas não atraem e nem
despertam a atenção de Marina. Como já falei, Marina não se importa com a
beleza escancarada, mas com algo de sedutor por trás (ou na frente). Claro que
num mundo ideal, isso não importaria. Mas esse é um mundo ideal? Se fosse, não
existiriam baratas. Mas voltemos, 500 peixes por aí dando sopa no oceano. Bem,
não tão fácil assim, metade desses peixes estão comprometidos. Com pessoas que
já são os amores das suas respectivas vidas? Sabe-se lá. Talvez sim, talvez
não. Mas o que importa é que 250 pessoas estão aí, Marina. Se você mora numa
cidade de 5 milhões de pessoas, você tem uma chance de 1 para 20 mil de achar
uma de suas almas gêmeas (cálculo baseado no que eu quis mesmo). Na sua cidade.
Ainda bem que existem outras cidades.
Ainda bem que existem outras cidades.
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