Foi igual a arrancar um
esparadrapo que Melissa deixou Marcos.
- Estou indo embora.
Sem espaço para brigas, discussões de relação, mimimis e coisas do tipo. Ele também não era do tipo de mendigar atenção.
- Quer ir, vá.
Ele sabia que essa hora ia chegar, mas isso não o
impediu de de sentir a puxada do esparadrapo. Muito menos de sobrar cola na
pele. E essa cola não desgruda jamais, vai grudando com outras, às vezes solta
um pouco, mas sempre está meio pegajosa. Só sai com éter. E quem tem éter em casa?
Marcos não tem éter em casa, então deixou a cola assim
mesmo. Além disso, se você usar éter, corre o risco de ficar anestesiado e se esquecer dos momentos bons. Algumas pessoas não hesitariam em esquecer a parte ruim da história. Mas esta infelizmente está amarrada à boa, e esse era um risco que Marcos não gostava de correr, pois achava que a linha do tempo é uma reta só, e quanto mais buracos tiver nessa reta, menos sentido vão fazer as coisas no futuro.
Marcos ficou sentindo sua pele ardendo ainda por um tempo, meio avermelhada. É que a falta que ele sentiu o surpreendeu. Então ele foi à geladeira e se serviu com uma cerveja. Por alguns
absurdamente gelados momentos, essa falta foi preenchida. Mesmo sabendo que
essa falta nem cerveja, nem Melissa, nem qualquer outra coisa vai suprir. Somos
todos destinados à incompletude.