Tom sabia que isso ia acontecer
mais cedo ou mais tarde. Ele sabia que depois de uma chegada vem sempre uma
partida, e que a vida é uma grande ilusão. Mas ele nunca se iludiu, não achou
que Dindi era o amor de sua vida, não podia contar com isso. É que Dindi tinha
uma doçura encantadora, um abraço que aquecia seu coração tão resfriado pelas
adversidades da vida.
No entanto aquela sensação de que
alguma coisa extraordinária poderia acontecer não o abandonava. Ela era seu
amor Bossa Nova: mansinho, feito uma brisa que diz “é impossível ser feliz
sozinho”. E quando a luz dos olhos dela encontrava com a luz dos olhos dele,
“Ah Dindi, se soubesses como machuca, não
amaria mais ninguém.”
Os dois não se viam sempre. Havia
uma distância que poderíamos medir em quilômetros, que não bastaria para
calcular quão longe estavam um do outro. Essa distância era mais bem medida em
dias. Dias que levariam para correr (literalmente) todo o percurso entre suas
casas. Provavelmente se encontrariam em alguma praia deserta no meio do
caminho. Passariam uma tarde em Itapoã, falando de amor.
E o resto, mar. Tudo que eu não
saberia nunca contar.
Eles só se encontravam de
passagem, na cidade, no cais, na eternidade. Mas o coração dele saltava toda
vez que, sem menos esperar, ela vinha, mesmo que por ínfimos e calorosos
minutinhos. Com seu violão, musiquinhas, palavrinhas bonitinhas e tantos e
tantos beijinhos, mais do que peixinhos a nadar no mar.
Mas ela sempre tinha aquele mar
no olhar. Como quem a qualquer momento se vai. Tom pensava “vai ver, tem que
ser”, e vivia o dia, sem medo de no final dele só sobrarem lembranças. Ele não
era ninguém de ir em conversa de esquecer a beleza de um amor que passou. O
importante era viver, e passar mais uma vez, só pra garantir.
“Ai, Dindi, se soubesses o bem
que eu te quero...”
Até que um dia Dindi disse que ia
passar por ali. Como sempre, Tom ficou tentando conter a aflição. Seriam abraços
e beijinhos e carinhos sem ter fim. Ele não, dormiu, não parou. Mas Dindi
passou direto.
Que insensatez, que coração mais
sem cuidado...
Não era uma grande surpresa, ele
sempre soube que ela partiria, mas os momentos felizes já tinham deixado raízes
no seu penar.
Com o tempo ele percebeu que ela
tinha ido sem volta. Então ele resolveu aceitar e seguir adiante. Sei lá, a
vida tem sempre razão.
“Mas, se ela voltar...
Se ela voltar, que coisa linda...
Que coisa louca.”