segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A arte de se atrasar porque parou para fazer poesia


Aos pobres de talento, mas ricos de inspiração: 
papel e caneta na mão!

Qualquer hora é hora,
E vou correr agora.

Bom dia, segunda feira

Hoje é segunda feira, meu amor!

Dia de começar tudo de novo,
dia de tentar preencher a falta.

A começar com palavras,
Pois só ela entendem
Só elas acalmam.

Hoje é dia de fazer poesia.
Bom dia!

Te amo, apesar

Te amo sem razão ou motivo aparente
Te amo onde a própria razão não entende
Não porque é fácil
Não porque você fez por merecer
Te amo sem saber.

Não que não sejas amável
Mas por ser tão amável para mim
Que chego até a te odiar.

Te odeio por me confundir
Por não me entender
Por não ter pudor em revelar o que não quero saber
E sobretudo por eu parecer tão boba por te amar
Apesar do que eu sei,
Mais do que consigo,
Mais do que eu pensei.

Te amo porque sou levada
Te odeio porque não pediu por nada
E talvez nem queira...
... e nem permita.

Te amo sem expectativa
Te amo sem eira, nem beira
Sem perspectiva.

Te amo pelo acaso do impossível
Na bagunça do impraticável
Com a certeza do indizível
Na medida do incalculável.

Te amo, ainda assim
Te amo, enfim
Te amo porque não há mais nada além de te amar.
Te amo, apesar

Mais

De você não quero tudo
De você não espero nada
Mais já me é suficiente.

Se agora é o fim
Nunca esqueça o que eu disse no começo:

Seja muito,
Ou seja pouco
Não aceito menos
Tudo que eu quero não é nada demais,
Eu só quero mais.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Esparadrapo

Foi igual a arrancar um esparadrapo que Melissa deixou Marcos. 

- Estou indo embora.

Sem espaço para brigas, discussões de relação, mimimis e coisas do tipo. Ele também não era do tipo de mendigar atenção.

- Quer ir, vá.

Ele sabia que essa hora ia chegar, mas isso não o impediu de de sentir a puxada do esparadrapo. Muito menos de sobrar cola na pele. E essa cola não desgruda jamais, vai grudando com outras, às vezes solta um pouco, mas sempre está meio pegajosa. Só sai com éter. E quem tem éter em casa?

Marcos não tem éter em casa, então deixou a cola assim mesmo. Além disso, se você usar éter, corre o risco de ficar anestesiado e se esquecer dos momentos bons. Algumas pessoas não hesitariam em esquecer a parte ruim da história. Mas esta infelizmente está amarrada à boa, e esse era um risco que Marcos não gostava de correr, pois achava que a linha do tempo é uma reta só, e quanto mais buracos tiver nessa reta, menos sentido vão fazer as coisas no futuro. 

Marcos ficou sentindo sua pele ardendo ainda por um tempo, meio avermelhada. É que a falta que ele sentiu o surpreendeu. Então ele foi à geladeira e se serviu com uma cerveja. Por alguns absurdamente gelados momentos, essa falta foi preenchida. Mesmo sabendo que essa falta nem cerveja, nem Melissa, nem qualquer outra coisa vai suprir. Somos todos destinados à incompletude.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

À princípio era o verbo

Eu queria construir um mundo feito apenas de palavras. Em cada lacuna, uma palavra. Em cada amor perdido, um poema. Como sentir qualquer falta, se vocábulos existem aos montes? Se um não fosse suficiente, tentaria outro e mais outro. E outro. As pessoas ligariam as palavras, e brincariam de poesia. As crianças pulariam de trampolim numa piscina de palavras e sairiam molhadas de cultura. Cada raio solar faria um sentido. Cada vento sopraria uma ideia. Já pensou que louco? A sorte é que esse mundo já existe.

Chega de saudade

Tom sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Ele sabia que depois de uma chegada vem sempre uma partida, e que a vida é uma grande ilusão. Mas ele nunca se iludiu, não achou que Dindi era o amor de sua vida, não podia contar com isso. É que Dindi tinha uma doçura encantadora, um abraço que aquecia seu coração tão resfriado pelas adversidades da vida.

No entanto aquela sensação de que alguma coisa extraordinária poderia acontecer não o abandonava. Ela era seu amor Bossa Nova: mansinho, feito uma brisa que diz “é impossível ser feliz sozinho”. E quando a luz dos olhos dela encontrava com a luz dos olhos dele,

 “Ah Dindi, se soubesses como machuca, não amaria mais ninguém.”

Os dois não se viam sempre. Havia uma distância que poderíamos medir em quilômetros, que não bastaria para calcular quão longe estavam um do outro. Essa distância era mais bem medida em dias. Dias que levariam para correr (literalmente) todo o percurso entre suas casas. Provavelmente se encontrariam em alguma praia deserta no meio do caminho. Passariam uma tarde em Itapoã, falando de amor.

E o resto, mar. Tudo que eu não saberia nunca contar.

Eles só se encontravam de passagem, na cidade, no cais, na eternidade. Mas o coração dele saltava toda vez que, sem menos esperar, ela vinha, mesmo que por ínfimos e calorosos minutinhos. Com seu violão, musiquinhas, palavrinhas bonitinhas e tantos e tantos beijinhos, mais do que peixinhos a nadar no mar.

Mas ela sempre tinha aquele mar no olhar. Como quem a qualquer momento se vai. Tom pensava “vai ver, tem que ser”, e vivia o dia, sem medo de no final dele só sobrarem lembranças. Ele não era ninguém de ir em conversa de esquecer a beleza de um amor que passou. O importante era viver, e passar mais uma vez, só pra garantir.

“Ai, Dindi, se soubesses o bem que eu te quero...”

Até que um dia Dindi disse que ia passar por ali. Como sempre, Tom ficou tentando conter a aflição. Seriam abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim. Ele não, dormiu, não parou. Mas Dindi passou direto.

Que insensatez, que coração mais sem cuidado...

Não era uma grande surpresa, ele sempre soube que ela partiria, mas os momentos felizes já tinham deixado raízes no seu penar.

Com o tempo ele percebeu que ela tinha ido sem volta. Então ele resolveu aceitar e seguir adiante. Sei lá, a vida tem sempre razão.

“Mas, se ela voltar...
Se ela voltar, que coisa linda...

Que coisa louca.”