segunda-feira, 15 de abril de 2013

Gordices, dietas e tudo o mais


Hoje eu resolvi fazer algo de diferente.

Resolvi ficar na minha casa, na minha piscina, tomando meus bons drink, e dividindo com vocês esses momentos meus...

...é... só que não.

Há meses tento escrever alguma coisa sobre comida. Mas sempre que eu penso em comida eu vou até a cozinha. Aliás, vou ali e já volto...

...

Isso me faz pensar que eu nunca compraria um frigobar pro meu quarto, porque parte da graça de comer é parar o que se está fazendo, levantar, ficar meia hora olhando pra geladeira e depois voltar. E enquanto eu tento escrever esse texto eu já levantei três vezes. Às vezes eu penso que sou hiperativa, mas depois me lembro de que não existem hiperativas gordinhas...

Bem, brincadeiras à parte, eu não levantei nenhuma vez pra comer, e nem acho que sou hiperativa, e existem sim hiperativas gordinhas. Mas voltando ao assunto, hoje eu queria falar sobre dieta, sobre essa dificuldade em fazer dieta, comer bem, emagrecer, e tudo o mais.

A minha vida inteira eu fiz dieta. E a minha vida inteira eu fiz gordice. Minha vida sempre foi um ciclo sem fim de dois extremos: quando eu estou completamente bitolada com as calorias e uma alimentação mais saudável, e quando eu absolutamente não estou me importando com nada disso. Também há aquelas épocas que eu tento me controlar para que eu emagreça bem muito e tenha crédito para poder comer o que eu quiser e o quanto eu quiser. Isso porque eu simplesmente desconheço um prazer que supere o de comer. Não é um mero abastecimento nutricional. É o primeiro prazer na vida de cada um de nós: matar a fome. Assim que nascemos o nosso choro é calado com a barriga cheia. E isso fica no inconsciente.

Mas nessa geração da beleza relacionada à magreza, ceder ao prazer de comer é uma atitude que chega a ser condenável. Para atingir o corpo ideal você deve passar fome e comer matinho. É o sacrifício que se paga para ser linda (padrão de beleza em voga). Além de passar fome e comer matinho você é obrigada a ver todos os seus amigos comendo, porque ninguém entende quando você fala: não vou comer isso porque estou de dieta. Sempre dizem: só um pouquinho não engorda não. Mas e a tortura de comer só um pouquinho? É difícil se controlar. E pior ainda: quando te chamam para um lanche ou algo do tipo, e você diz que não vai, aí a pessoa fica com raiva e diz: você deveria me fazer companhia pelo menos, cadê a sua força de vontade?

Dieta é uma coisa extremamente vinculada à força de vontade (termo esse que nunca entendi bem o sentido), e a uma disciplina tão rígida que você chega a se questionar se o resultado vale mesmo o esforço. Há aqueles que dizem que o melhor caminho é o da reeducação alimentar. Mas só de ouvir esse termo dá um desespero em pensar que vai comer essas coisinhas saudáveis para o resto da vida. Pô, e a minha coxinha? E meu sanduíche do Mc Donalds? Sério, e daí se eu fui bombardeada a vida inteira com mensagens subliminares e tudo o mais? Tarde demais, eu quero minha batatinha!

Força de vontade é uma coisa que a gente tem que economizar. Não é coisa pra ficar gastando à toa não. Não é uma força que quanto mais você exercita mais ela cresce. Pelo contrário, é um turbo de jogo de luta de videogame, você tem que usar com estratégia. Ela pode crescer de novo, mas antes que isso aconteça você já enfiou a cara inteira em um bolo de chocolate. E depois vem a culpa, a angústia de ter sido fraco. Mas não, que culpa temos em gostar de comer? Essa é a primeira coisa que tem que ir embora para que a alimentação saudável seja sustentável.

Porque querendo ou não um dia aparece sim aquele confronto com a realidade: e a minha saúde? E meu corpo? Sou fútil em pensar na aparência? Ou sou desleixada em não ligar para isso? Isso é um conflito eterno.

Demorou, mas eu finalmente entendi o sentido de se ter uma alimentação e hábitos de vida saudáveis. Não adianta tentar lavagem cerebral nas pessoas e dizer que isso é questão de saúde, quando há uma área no inconsciente que acha que a gente é imortal. Enfim, porque dessa vez é diferente para mim, já que eu disse que estou eternamente nesses ciclos de conscientização e relaxamento total? A diferença é que eu entendi a grande questão, que é: precisamos aguentar os baques da vida!

Quando comecei a trabalhar, o meu ritmo de vida acelerou tanto que eu não estava aguentando. Chegava em casa com dores e com olheiras, muitas vezes até desidratada. Quando estabeleci um estilo de vida mais saudável, eu dobrei minha disposição e energia e comecei a produzir muito mais. Minha jornada diária nem termina aí, consigo tranquilamente estudar e me dedicar a outras atividades. Tudo isso porque assumi o controle dos meus hábitos e a responsabilidade vinculada a eles. Isso é o mais importante. Comer de forma desordenada atrapalha muito, e te “livra” de uma responsabilidade que na verdade você está se enganando em não assumir. Voltando àquilo que disse sobre o fato de levantar, abrir a geladeira, pensar no que vai comer, isso tem que sumir. É preciso saber exatamente o que vai comer, e assumir essa responsabilidade. Fazendo disso um hábito, facilita na hora de tomar decisões, e os sacrifícios vão ficando cada vez menores.

E somente após ter isso em mente, podemos assumir outros passos que é começar a realmente gostar daquilo que está comendo, do matinho e tudo mais. Você começa a inventar novas formas de comer matinho. E os resultados são diários! Metas são importantes, precisamos sim de resultados instantâneos. Mas sejamos realistas: pequenos resultados instantâneos, que são uma grande vitória. Não adianta querer perder 10 quilos em uma semana e gastar todos os seus esforços de uma única vez. Como eu falei, está gastando força de vontade sem estratégia.

Outra coisa que ajuda é entender um pouco de nutrientes. Você começa a pensar que tem coisas que nem vale a pena comer. E quando eu digo isso eu não estou falando da sua comida preferida. Se tal coisa é sua comida preferida, é você que vai estabelecer se vale a pena comer ou não, você é quem sabe o tamanho da sua vontade. Um exemplo: refrigerante. Eu sou a melhor pessoa para se falar sobre isso porque não tenho nenhum tipo de hipocrisia ao falar sobre refrigerante. Isso se deve ao fato de que eu ADORO refrigerante. Questão de bolhas e tal. Mas enfim, é uma coisa que eu particularmente só tomo sem açúcar. Sim, eu sei que também faz mal e tudo o mais. Mas em nível nutricional, um copo de coca cola não acrescenta em nada, a não ser o fato de uma bomba de açúcar que instantaneamente é absorvida pelo seu organismo. E não vai nem matar sua sede, você vai acabar tendo que beber mais, e nem é tão prazeroso assim, pra pessoa ficar se deliciando com isso. É uma coisa pra você tomar e pronto. No caso de uma cheesecake de goiaba, não, você fica ali aproveitando aquele nirvana em forma de sobremesa, e querendo ou não tem alguns nutrientes sim. Claro que quando você tem uma meta, você quer cumpri-la o mais rápido possível, e mesmo sabendo que é uma coisa a longo prazo, você tem que se privar de algumas coisas do dia a dia sim. E é aí que você vai usar a sua força de vontade, de pouquinho em pouquinho. E eventualmente vai comer comidas mais calóricas, e tão prazerosas. E sem culpa, porque comer é muito bom! E não tem que ser de outra forma.

E aí vai chegar o dia (espero muito mesmo que esse dia chegue para todos nós!) em que não é preciso se preocupar com o “não comer”, e não porque vamos comer descontroladamente e aproveitar o crédito que conquistamos, e sim porque o controle será algo natural. E não um estado de vigilância 24 horas por dia.